terça-feira, 20 de maio de 2008

NOSSOS COLABORADORES ESTÃO PRODUZINDO EM RITMO FRENÉTICO.

É isso aí rapaziada. Vamos quebrar tudo! Contamos com vocês.
DESMASCARANDO II
POR: ALEXANDRE MENDES

Às vezes você deve se perguntar por que a imagem de Jesus Cristo,nos livros e pinturas,é de um homem caucasiano,ou então quando vê um negro em destaque na sociedade,toma até um susto ou se impressiona. Mas afinal,de onde vem esse pensamento racista profundamente arraigado em nossa consciência? Na verdade,esse racismo vem dos ideais do colonizador europeu, que era cristianizar e organizar socialmente os povos colonizados, fazendo com que aceitassem(de forma pacífica ou não) a exploração de sua terra e trabalho. A consolidação do racismo etnocêntrico europeu, foi forjada na necessidade de se escrever "uma história para a nação", após a independência do Brasil, visando posteriormente o ensino desta nas escolas com o objetivo de conformar e delinear papéis na sociedade.
Atualmente,o que vemos no ensino é o desenvolvimento de tal técnica. As escolas públicas são fracas,porém há um fortalecimento no ensino profissionalizante, de baixo custo ou até gratuito. Isto é, "eles" querem que o pobre (a maioria negra ou mestiça) seja no máximo o "técnico",mas raramente o "doutor". Em contrapartida,as escolas particulares buscam preparar os alunos (a maioria branca) de forma que alcancem com facilidade o emprego, ou lugar de destaque na hierarquia social (que é visto como seu por direito).
A democratização do ensino é lenta. Só a implementação da história da África e do índio nos programas escolares ainda é pouco. O que faz falta são escolas de cunho anarquista e independente, como as Escolas modernas, inspiradas em Ferrer y guardia, do início do século. Infelizmente, podemos afirmar que o ensino democrático ainda é uma utopia...


A opressão à mulher

Por: Winter Bastos

Hoje em algumas organizações que se dizem de cunho revolucionário, questões relativas à emancipação feminina são tidas como secundárias. Primeiro seria preciso resolver assuntos ditos mais urgentes, relacionados sobretudo à esfera econômica. Tal visão é tributária do marxismo, que reconhece todas as demais relações de poder na sociedade como mero reflexo da estrutura econômica. Daí se conclui que, uma vez alcançada a coletivização absoluta dos bens, com o aniquilamento da propriedade privada, as demais questões que afligem o povo – machismo, racismo, homofobia (discriminação a homossexuais) – se resolveriam como que magicamente.

Na verdade, tal posicionamento esconde um mal disfarçado menosprezo por temas que não atingem diretamente àqueles que ditam os tais assuntos prioritários na agenda revolucionária. Ora, é obvio que não continuariam se engajando em lutas tidas como importantes, negligenciando questões "pequenas", se estas os ferissem continuamente. É fácil considerar secundário o preconceito contra alguém que não sou eu.

As mulheres, no entanto, insistem em levantar tais questões "secundárias", afinal é nas costas delas que o açoite do machismo se abate; pouco lhes importa que os demais açoites devam cessar primeiro, segundo dita a ortodoxia "revolucionária".

Não raro, as mulheres acabam sendo tachadas de pequeno-burguesas por sua insistência em tratar de "pequenas" questões cotidianas. Chamar uma mulher de burguesa por ela se preocupar com a divisão do trabalho doméstico, ou liberdade para namorar sem a repressão paterna, é pura opressão machista travestida de radicalismo revolucionário. Tal comportamento é compreensível nas fileiras marxistas, já que nelas a revolução é concebida por etapas: primeiro o mais importante, depois o secundário. Assim o marxismo entende que primeiro deve haver a ditadura do proletariado que garantiria o essencial a todos: moradia, alimentação, saúde, educação. Depois o Estado iria – paulatinamente – incorporando os indivíduos aos aparelhos estatais, concedendo mais e mais poder decisório a um número crescente de pessoas. Assim um dia todos se tornariam parte do governo e desta forma deixariam de existir governantes e governados: todos seriam líderes e ninguém seria súdito. Dentro desta lógica – que aliás nunca se verificou na prática –, a mulher também deixaria de ser súdita.

Isso é bem diferente no Anarquismo (se você não conhece esse movimento político, informe-se em http://www.farj.org/). No meio anarquista – eu dizia -, é entendido que não pode haver etapas na revolução. Ela é algo para já. Em um conhecido aforismo, o escritor checo Franz Kafka (1883-1924) escrevera: "Há um local de destino mas não há caminho que nos leve até ele. O que chamamos de caminho é apenas indecisão". Não existem questões prioritárias e secundárias, há problemas que parecem mais ou menos importantes a umas ou a outras pessoas. Todos devem ser considerados e levados a termo.

Não basta, porém, a abolição formal da dominação masculina. Num ambiente militar, por exemplo, onde as relações de poder oficialmente se baseiam em patentes hierárquicas bem definidas, o machismo as transgride impunemente a despeito dos regulamentos formais. Vê-se, em festividades de ambientes militares, tenentes médicas se apressarem a cobrir e pôr quitutes sobre as mesas, enquanto sargentos e cabos conversam despreocupados, com a maior naturalidade, aguardando ociosos o início do evento.

De modo análogo, numa comunidade pretensamente livre cujos estatutos estabelecessem formalmente a abolição de hierarquias, o machismo poderia perdurar em relações cotidianas.

Hoje, mesmo no seio da repressora sociedade capitalista, temos que lançar a semente libertária que consiste na busca em vivermos da maneira mais anárquica possível desde já.

A opressão da mulher é enorme e ao mesmo tempo quase invisível. Ela consiste em uma série de maneiras de agir e pensar profundamente enraizadas em nossos corações e mentes. As questões de gênero parecem obvias, naturais, dadas. É como se sempre o homem e a mulher houvessem tido exatamente o mesmo papel que têm hoje. No livro A Dominação Masculina (Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1999), Pierre Bourdieu atenta para o fato de que a divisão de gêneros, e de papéis entre eles, parece ser algo fora da história, algo inerente à ordem do mundo, imutável e universal. Lê-se na página 17:

"A divisão entre os sexos parece estar 'na ordem das coisas', como se diz por vezes para falar do que é normal, natural, a ponto de ser inevitável: ela está presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado nas coisas (...), em todo o mundo social e, em estado incorporado, nos corpos e nos habitus dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de ação."

Porém Bourdieu constata que os papéis que homens e mulheres adquirem, dentro de sociedades, não são uniformes, nem imutáveis, mas apenas visam a aparecer dessa forma, se naturalizar, como se fossem universais e existentes desde sempre: "aquilo que na história aparece como eterno não é mais que o produto de um trabalho de eternização que compete a instituições interligadas tais como a família, a igreja, a escola e também, em uma outra ordem, o esporte e o jornalismo..." (p.6).

A construção da masculinidade moderna estava fortemente ligada a nova sociedade burguesa que se consolidava no fim do século XVIII. Foi aí que os principais estereótipos da masculinidade como conhecemos hoje realmente surgiram.

Os modelos de masculino variam de lugar para lugar e de grupo para grupo, porém pode-se dizer que eles comumente estão ligados ao patriotismo, ao civismo, à honradez. O estereótipo da masculinidade moderna – sobretudo européia e norte-americana – engloba ousadia, autocontrole, coragem, bom-senso e ponderação.

Dentro deste prisma, enquanto a mulher é tachada de consumista, desequilibrada, irresponsável, impulsiva, guiada por instintos, o homem seria caracterizado como econômico, prudente, trabalhador, provedor do lar.

Ao sexo masculino seria reservada a vida pública, enquanto a mulher estaria naturalmente destinada à esfera privada: lar, filhos, família.

Em princípio não há que se condenar um casal em que a mulher tenha optado por cuidar dos afazeres domésticos enquanto o homem trabalha na rua. Porém considerar que tal estrutura é natural e obrigatória é algo profundamente pernicioso. Este tipo de estruturação da vida familiar foi tão naturalizado e introjetado nas pessoas que hoje é exigido também da mulher que trabalha fora que cuide sozinha da casa e dos filhos – tarefas "naturalmente" femininas. Quando essa dupla jornada de trabalho se torna demasiado extenuante, as famílias que não obrigam a mulher a abandonar seu emprego externo, para se dedicar ao seu "papel natural" no lar, optam por contratar uma empregada (notem: uma empregada, não um empregado). Assim o marido "progressista" de classe média julga resolver o problema da dupla jornada da esposa livrando-a do serviço doméstico. Mas nos cabe indagar: e a empregada doméstica? Ela trabalhará fora o dia inteiro, depois terá que cuidar sozinha da própria casa, afinal isto é trabalho de mulher, ou não?

Pois bem, não é atividade de mulher nem de homem. Não há nada na natureza ou no cosmos que determine qual deve ser o trabalho ou a conduta masculina ou feminina. Todas as formulações que buscam fundamentar uma moral para o homem e outra para a mulher não passam de construções teóricas que tentam naturalizar e eternizar um modelo conveniente às estruturas sociais dominantes.

Diz-se, por exemplo – sobretudo no contexto latino-americano –, que o homem seria naturalmente propenso ao adultério e que reprimi-lo por essa prática seria uma agressão à sua masculinidade. Em contrapartida a mulher seria monogâmica por natureza e aquelas que transgredissem esta regra o estariam fazendo por falha de caráter. Chega-se a formular justificativas biológicas para isso. Os homens, por serem dotados de milhões de espermatozóides, seriam propensos a distribuí-los a uma grande quantidade de mulheres, pois estas só produzem um óvulo por mês. Quando se quer criar coelhos, por exemplo, é aconselhável deixar o mesmo macho com várias fêmeas para rápido aumento da criação. O fato é que não somos coelhos ou preás – pretendemos ser seres humanos – e nosso objetivo como sociedade não é fecundar o maior número de fêmeas possível. Seria bem fácil criar alguma teoria de cunho biológico que "provasse" que o homem deveria ser casto, enquanto à mulher caberia ter vários parceiros. Basta pensar, por exemplo, que é possível a mulheres manterem 30 relações sexuais por dia enquanto o homem estaria "naturalmente" destinado a uma vida sexual menos agitada, por limitações de ordem biológica.

A mentalidade machista que perpassa toda a sociedade, mesmo sem percebermos, contamina nosso cotidiano e traz graves conseqüências.

Uma filha adolescente dormindo até tarde é algo que fere de forma irracional a mãe de família que encara com naturalidade o pai roncar até meio-dia recendendo à cerveja. Quando o pai sai do quarto, vestido apenas com o calção do pijama, se queixando da ressaca, a primeira coisa que pergunta é: "Essa menina ainda está dormindo?". A mãe suspira como que lamentando a filha indolente que tem. Se, acordada pelos pais, a jovem sai do quarto só de camisola, será certamente acusada de falta de compostura. É, de fato, insuportável a uma família constituída nos moldes burgueses ver uma adolescente dormir, andar de camisola, comer, sair com namorados...

Já o filho – apesar de também ser, até certo ponto, considerado propriedade dos pais – é incentivado à vida pública: sair, beber, dirigir, ter amigos e, sobretudo, mulheres. Ele não deve ter propriamente uma namorada; quanto mais efêmeras e numerosas suas ligações amorosas, mais felizes os pais ficam.

Na sala, deitado, um rapaz pede à irmã que lhe prepare um sanduíche. Se a irmã lhe responde que o faça ele mesmo, a mãe intervém chamando-a de preguiçosa e indo ela mesma preparar o lanche do filho (trabalho doméstico, "natural" da mulher). Depois de uma cena familiar deste tipo, normalmente se passa o resto do dia falando mal da jovem, chamando-a de egoísta e imprestável. Seria, porém, inconcebível que a moça pedisse ao irmão que lhe preparasse comida ou fizesse qualquer favor doméstico.

Numa família muito pobre, tal tipo de opressão pode trazer conseqüências devastadoras para a mulher. A filha mais velha pode, por exemplo, ser forçada a ficar em casa cuidando da mais nova enquanto o irmão vai à escola. A filha dedicada o que ganha? Ignorância e escravidão doméstica. A ela restará a esperança de que talvez um dia venha a ser resgatada de sua triste realidade por algum príncipe encantado que a leve a algum bonito castelo. Até lá permanece sofrendo, beijando mais e mais sapos, esperando que algum deles se torne príncipe. Um dia engravida, leva uma surra em casa, é posta na rua, sem lar, instrução ou trabalho. É grande a possibilidade de se tornar prostituta e vir a servir ao rapaz de classe média que exigia, da irmã, um sanduíche. Ele se sentirá feliz em encontrar alguém que o sirva sem restrições, mas no fundo a considerará uma preguiçosa como a irmã, caracterizando-a como mulher de vida fácil.
Nenhuma mulher tem vida fácil sob o capitalismo.