sexta-feira, 13 de março de 2009

Do restaurante a Fiat do coco

Fabio da Silva Barbosa
RETRATANDO O CONTRASTE SOCIAL

Na orla de São Francisco, Niterói, uma cena chama a atenção de quem passa, destacando o contraste social em que vivemos. Em frente a um dos mais conceituados restaurantes da cidade, o Porcão, com seus manobristas e salões confortáveis, uma Fiat 147, onde dois amigos fazem diariamente a venda de cocos, está a três anos cativando fregueses. Ana, 47, psicóloga, que para diariamente no carro diz que o lugar já é uma atração a parte. A relação entre os vizinhos é muito amistosa, dando um ar pitoresco a convivência entre os extremos.
Um funcionário do Porcão, que não quis se identificar, disse que já viu muitas pessoas saírem do rodízio e irem tomar uma água de coco na Fiat. “Todo mundo tem seu espaço. Eles estão trabalhando como nós. Não podem abrir uma churrascaria, mas tem uma Fiat. Não anda, mas funciona como ponto de venda. ”
Fernando Silva Souza, 15 anos, trabalha na parte da manhã com as vendas de cocos, a tarde ele vai para a escola. Filho de Ronaldo Souza Jardim e Edvânia Pereira da Silva, Fernando mora na comunidade Bela Vista, em São Gonçalo e diz que os pais cobram bons resultados nos estudos em troca de deixá-lo trabalhar: Todo dia minha mãe olha meus cadernos e passa exercícios modificando os que a professora faz na escola. Ela controla meu horário. Não posso perder um dia de aula.” Diz que gosta muito do trabalho, principalmente de observar a praia.
Na parte da tarde quem assume até a hora de fechar é seu amigo e sócio Rogério, 28. Além dos cocos e o lucro eles dividem o Fiat. “Compramos esse carro juntos. Ele é nosso” Explica Fernando. Ele ainda acrescenta que embora a época do carnaval prometa maiores vendas, a atenção tem de ser redobrada “Nunca fui roubado aqui, mas tenho de tomar cuidado quando fica muita gente junta... Nunca se sabe.”