sexta-feira, 19 de setembro de 2008

ENTREVISTA: COMUNIDADE DE RUA



TEXTOE FOTO POR:

FABIO DASILVA BARBOSA

E

LUIZ HENRIQUE PEIXOTO CALDAS
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COMUNIDADE: O que te levou a morar na rua?
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MORADOR DE RUA: Na verdade eu tenho casa, mas não aqui em Niterói.
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COMUNIDADE: E o que está fazendo aqui pela cidade?
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MORADOR DE RUA: Tenho parentes por aqui.
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COMUNIDADE: Por que não fica na casa deles?
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MORADOR DE RUA: Eles tem preconceito por causa da bebida. Na verdade eles também bebem. Só que eles bebem cerveja, eu prefiro cachaça.
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COMUNIDADE: A cachaça te levou a morar nas ruas?
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MORADOR DE RUA: É. Antes de começar a beber eu lutava boxe... Daí comecei a beber e acabei aqui.
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COMUNIDADE: Drogas?
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MORADOR DE RUA: Nunca usei.
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COMUNIDADE: Nunca? Nem um tapinha?
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MORADOR DE RUA: Na verdade usei quando fui interno da Funabem, mas nunca foi meu forte. Já não uso mais. Foram poucas vezes. Era coisa de moleque mesmo.
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COMUNIDADE: Você disse que tinha uma casa. Onde fica? Rio?
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MORADOR DE RUA: São Paulo.
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COMUNIDADE: Como de São Paulo você veio até aqui?
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MORADOR DE RUA: Andando. Como falei minha família é daqui. Na época que fui interno da Funabem, eles tinham a idéia, de não sei com que finalidade, afastar ao máximo o interno de seu local de origem. Aí fui parar em São Paulo.
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COMUNIDADE: Constituiu família lá?
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MORADOR DE RUA: Tive 3 filhos. Uma com cada mulher.
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COMUNIDADE: Então conta como conheceu esse monte de mulher.
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MORADOR DE RUA: (Risos). Essas mulheres é o seguinte. A Marina eu conheci em um dia de Domingo, quando esperava por outra mulher. Essa outra mulher não veio. Na época ainda era lutador. Aí a Marina apareceu na janela e fui perguntar as horas... O resto foi normal. Namoramos e tivemos uma filha. Eu tinha 26 ou 27. Ela era mais velha que eu 3 anos. A outra eu não posso contar. Essa não dá para contar.
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COMUNIDADE: Então pula para outra.
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MORADOR DE RUA: A mãe do meu filho mais novo conheci depois que o marido morreu.
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COMUNIDADE: E por que existem tantas pessoas como você, que tem uma história de vida, morando na rua?
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MORADOR DE RUA: Por vários motivos. Drogas, a maioria por causa do álcool e tem gente.. Tem gente de todo tipo. A população de rua é muito variada... muito misturada. Encontra de tudo. Tem gente que fica misturada com o morador de rua só para poder roubar, tem os que ficaram desempregados, os que já chegaram nas ruas quando criança, por causa de problemas em casa... A maioria posso dizer que é por causa do álcool.
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COMUNIDADE: Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
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MORADOR DE RUA: Aquela história não posso contar.
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COMUNIDADE: Da mulher? Esquece isso. Pensa em alguma coisa importante que esquecemos
de falar.
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MORADOR DE RUA: Importante é minha irmã Carmem. Ela é importante na minha vida. A gente briga, mas ta sempre procurando um ao outro. Tenho 7 irmãs. Só eu moro na rua.