terça-feira, 24 de junho de 2008

O fim do mundo

Por: Alexandre Mendes

"Os dirigentes capitalistas podiam temer que o desaparecimento do produtor rural, do artesanato e da pequena burguesia comercial e industrial reforçasse as fileiras do proletariado. Mas o "modernismo" veio trazer-lhes o êxito total com a automação, a miniaturização e a informática. Após o despovoamento dos campos, assistimos agora ao das fábricas e dos escritórios. Como o capitalismo não sabe nem quer partilhar o lucro e o trabalho (vemos isso nas reações indecentes e histéricas do patronato à jornada de 35 horas- medida de resto bem tímida), chegamos inelutavelmente ao desemprego e à sua corte de desastres sociais."
Maurice Cury .E.C Éditions, Le Libéralisme Totalitaire.

Pois então, meus caros leitores, essa é a triste realidade do horizonte que avistamos. A tecnologia não está gerando a evolução. A tecnologia está gerando a "devolução", que nos dá uma idéia de retorno, atraso. Mas é claro que o atraso fica para o povo. Um exemplo claro está no vale-transporte eletrônico. O trabalhador não pode pegar uma van na volta do trabalho, é obrigado a esperar o ônibus, não importa o seu atraso. Passageiro e condutor de van saem perdendo nessa, só quem ganha é o empresário de ônibus. E o cobrador, que está sujeito a perder seu emprego, por causa do validador e do micro-ônibus. Milhares já foram demitidos em nome da tecnologia. Somos cercados por câmeras em nossos serviços. Os empresários em geral, alegam que é para a segurança da empresa. Somos vigiados quando entramos em um elevador, ou em qualquer outro lugar público.
Não podemos mais exprimir o que pensamos em uma cédula eleitoral, apenas apertamos botões que não expressam nosso ódio e repúdio pelos políticos e suas sujeiras. A cada dia somos mais e mais controlados pelos manda chuvas do mundo. E a ordem sintética da tecnologia capitalista é, gradualmente, não precisar mais do povo para nada.
Pessoas formadas disputam vaga para gari com pessoas de menor grau de instrução; alguns aceitam trabalhar sem carteira assinada, ou sem receber pelas horas extras. Estamos chegando a um nível insuportável de desvalorização de nossa mão de obra. Qual foi a última vez que o povo se revoltou com a situação trabalhista? Será esse o prenúncio do fim do mundo para nós? Será que um dia não haverá mais povo no mundo, somente os empresários e a tecnologia demagógica deles?


LIBERDADE!!!

A cruz na estrada
Caminhoneiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atira nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito da verdura,
Que o senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. o gaturamo
Geme por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,
num abraço de flores se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio que habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminhoneiro! Do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.

Castro Alves
Recife,22/06/1865.