domingo, 20 de abril de 2008

Morro da Charitas

Morro da Charitas passa por recadastramento para definir futuro.


O morro da Charitas, conhecido como Comunidade da Hípica, que conta com mais de 80 anos de história, vem tendo preocupações. Alguns moradores estão desconfiados do recadastramento que vem sendo realizado na comunidade. O medo é que as famílias que vivem ali há tantos anos sejam removidas.
O Presidente Sérgio Luiz Mariano de Oliveira (55) acredita que o recadastramento é para o bem do lugar e que os moradores terão suas propriedades reconhecidas pelo estado. Só não podendo vender os terrenos para especuladores imobiliários. “Estamos em negociação com a prefeitura. Uns dizem que o terreno onde está estabelecida a comunidade pertence ao Aeroclube, outros que pertence a Hípica. Existe uma divisão de interesses na localidade. O recadastramento vai ser para doar os terrenos para os moradores, mas muita gente não está entendendo isso.”
Só que esses moradores não estão temendo a toa, já que há algum tempo atrás puderam assistir aos tratores removendo uma comunidade vizinha. Sérgio disse que 70 por cento dos moradores já estão cientes das verdadeiras intenções da prefeitura e estão satisfeitas com as condições em que os terrenos serão doados, no regime usos e frutos, onde o bem passará dos pais para os filhos. Reuniões estão sendo feitas no intuito de esclarecer a parcela que ainda teme pela sua segurança.

O que está faltando?

Outros motivos servem de preocupação. A comunidade não tem sede de associação, creche, ou médico de família. O Presidente afirma que eles têm um módulo do médico de família, mas este se encontra no Preventório. “Preventório é uma coisa e Morro da Charitas é outro. As pessoas têm mania de misturar. Lá existem dois módulos, porque um é nosso.”
Rafaela, moradora do lugar, nos contou que muitas vezes ao chegar ao Posto não encontra atendimento e não recebe ao menos um encaminhamento para outro lugar. A creche também fica no Preventório e não consegue atender as crianças das duas comunidades. “As crianças ficam em casa, pelos quintais. Como não temos onde deixa-las, ficamos impossibilitadas de trabalhar.” O esgoto foi outro problema levantado por Rafaela, que teme ser atacada pelos ratos que passam por ele.
Jane, outra moradora, apoiou as reivindicações de Rafaela e acrescentou que um espaço para lazer onde houvesse atividades para as crianças seria de muita ajuda. “Da região somos os mais esquecidos.”
De uma simples moradia a uma comunidade

A primeira casa do lugar

Na época em que Charitas era um descampado, o aeroclube funcionava como aeroporto para pequenos aviões. O mecânico que consertava os aviões no hangar se Chamava José Rangel, o primeira a colonizar o Morro da Charitas, junto com Sofia Rangel, a cerca de 80 anos atrás. Depois vieram as outras famílias. A família Costa, a da Dona Nilda, Nilza, do Senhor Justiniano, Vermelhinho, entre outras que foram chegando.
Sérgio Luiz, nascido e criado no lugar lembra que não chegavam a dez famílias. “A minha mulher é da família Rangel. Isso que você vê aqui é o progresso dessas famílias.”
Clarismundo Costa chegou ao morro com nove anos e hoje com 70 conta que muita coisa mudou. O Colégio Assunção era de madeira e a paisagem que tinha acesso não é mais a mesma, pois os prédios estão tapando tudo. “Mas estou satisfeito onde vivo. É um lugar calmo com uma ótima moradia.”
A Associação de Moradores da Charitas existe dês de1992 e atualmente conta com Sérgio Luiz na presidência e Márcio como Vice-presidente. Ambos estão cumprindo o final do seu mandato com muita luta e aprovação da comunidade.

Entrevista com o Presidente da Associação de Moradores do Morro de Charitas

Por: Fabio da Silva Barbosa
& Luiz Henrique Peixoto Caldas


Comunidade: Por que você está largando o cargo?

Sérgio Luiz: Meu tempo acabou. O Presidente só pode ficar quatro anos na associação e o mandato acaba agora em Março. Está acontecendo nova eleição para definir quem vai ocupar o cargo.

Comunidade: Como você avalia sua gestão?

Sérgio Luiz: Sou nascido e criado aqui. Conheço todo mundo. O problema é que são poucas pessoas a colaborar com a organização da comunidade. Tudo que acontece às pessoas vem me procurar. É dentadura, briga de casais, vizinhos... Como Presidente o indivíduo tem de aturar certas coisas, já como morador é diferente. Acho que o pessoal ta vendo muita novela. Só pode ser.

Comunidade: Existe algum tipo de ajuda de custo oferecida para a associação?

Sérgio Luiz: Não. Já ouvi falar de alguns lugares que tem, mas aqui não chega nada. Eu pago para resolver os problemas. Se gasta dinheiro com passagem, xérox... isso sai é do meu bolso. E ainda tem algumas pessoas que malham. Dizem que Presidente de associação é ladrão.

Comunidade: E as necessidades básicas do lugar? Estão sendo atendidas?

Sérgio Luiz: Não temos Gari Comunitário. A escadaria de acesso é varrida pelos próprios moradores. Estamos correndo atrás para conseguir trazer nosso módulo do médico de família que está no Preventório para cá e uma creche também. Charitas é um lugar muito bonito, mas hoje vocês vão conhecer o submundo.
Comunidade: E com sua saída como vai ficar o futebol?

Sérgio Luiz: Estou deixando a presidência, mas no projeto ninguém mexe. Vou continuar trabalhando com as crianças e organizando a pelada dos adultos na praia. O futebol infantil é algo com que trabalho a cerca de 40 anos e já atende a mais de 70 crianças. Isso vale também para o bloco em que já estou na presidência há três anos. São coisas distintas. Continuarei a frente delas.

Comunidade: E o time veterano?

Sérgio Luiz: Durou mais de 30 anos. Agora já morreram quase todos. A faixa etária era acima de 45 anos. Do time veterano só sobrou uns quatro. Eu, meu irmão e mais uns dois coroas. Hoje eu jogo com a garotada na pelada. Com meu filho Leleco e os amigos.

Morro da Charitas

Por:Fabio da Silva Barbosa
& Luiz Henrique Peixoto Caldas
Projetos sociais
Existem dois projetos sendo realizados no Morro de Charitas. Ambos ligados à área de esporte e priorizando o atendimento infantil. O Viva Vôlei e o futebol. Eles acontecem durante a semana, na Praia de Charitas.
O Secretário Regional, Fábio Ferreira, tem ajudado muito a comunidade e os projetos em andamento. O campo da praia foi praticamente refeito e o esgoto que desembocava ao lado foi removido.

- Viva Vôlei: infantil
2°, 4° e 6° feira
18:00 às 20:00

- Futebol: infantil e feminino
3° e 5° feira
18:00 às 20:00

Um dos blocos mais tradicionais da região

O Morro da Charitas também possui um dos blocos carnavalescos mais tradicionais da região, O Bloco do Pau Caído. Foi contabilizado a venda de mais de 35 caixas de cerveja em menos de 4 horas em desfiles passados e conta anualmente com a participação de pessoas de comunidades vizinhas, da própria comunidade, de banhistas da praia e foliões de outros estados do país. O Presidente conta que “tem um pessoal de Brasília que todo ano vem para desfilar e deixam a camisa paga com antecedência para não ficarem em falta”
Mesmo com participantes de fora o Bloco conserva uma característica familiar e nunca teve confusão nos 10 anos de desfile. As camisas desse ano foram patrocinadas pelo Secretário Regional. Uma verba da Prefeitura cobriu os custos com a bateria, cedida pelo Cavalão (Mocidade de Icaraí) e Jurujuba, com o carro de som, entre outras necessidades do desfile. A chuva atrapalhou um pouco.