Caminhando pela Estrada Velha de Maricá, em Rio do Ouro, nos encontramos com Alexandre Mendes, 31, Chargista, cartunista, morador da comunidade Bela Vista e o responsável pela apresentação do local, já que tanto Mercadinho das famílias, quanto Bela Vista, não possuem presidente de Associação.
Estudante de história e idealizador de um projeto que visa produzir vídeos documentários sobre o levantamento histórico de comunidades carentes, Alexandre nos contou um pouco sobre a história da estrada: “Na década de 70 essa estrada foi ampliada e aterrada. Podemos observar que as casas do lado direito da pista no sentido São Gonçalo são abaixo do nível da rua. Esse é o princípio da urbanização do bairro do Rio do Ouro.”
Ao passarmos em frente a Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (ANDEF) Alexandre elogiou o projeto e disse que além de atender aos deficientes ele é aberto aos moradores do Rio do Ouro e comunidades vizinhas.
ALEXANDRE SUBINDO A LADEIRA
Entrando na comunidade Mercadinho das Famílias
Em determinado ponto da estrada, entramos em um pequeno desvio que dá para as ruas Manoel Furtado e Ernesto Mendonça, que dão acesso a comunidade Mercadinho das Famílias. O acesso pertencente à cidade de Niterói mostra logo suas necessidades. Alexandre da ênfase a falta de asfalto e comemora quando passamos por um caminhão de lixo. “Isso é muito raro, mas hoje eles estão fazendo o trabalho de coleta de lixo”.
Em alguns lugares foram feitos serviços de pavimentação, que Alexandre contou ter sido executado com o próprio esforço da comunidade. A questão dos políticos que aparecem em época de eleição e somem passado tal período, escutada em outras comunidades, também foi ouvida. O campinho está em situação precária, deixando os moradores sem uma área de lazer que pudessem desfrutar. A sede da associação também está em completo abandono.
Durante a caminhada atravessamos o limite da cidade de São Gonçalo. A situação é muito parecida em ambas as partes. Mais alguns passos dentro do município vizinho chegamos a comunidade Bela Vista, onde o contraste da precariedade das ruas e moradias se faz de forma gritante com a riqueza natural em volta, que dá um ar de paz e tranqüilidade.
ALEXANDRE RELATA AS PRINCIPAIS DIFICULDADES E CARENCIAS DA COMUNIDADE
Chegando a Bela Vista
Ao chegarmos na comunidade onde mora, Alexandre anuncia com seu sarcasmo característico: “Agora acaba o chão de cimento e começa a trilogia do terror. Com: Barro, esgoto acéu aberto e nada de água encanada.”
Como havia chovido há pouco tempo, pudemos constatar a situação caótica das ruas da comunidade. Os moradores improvisaram uma canaleta para escoar as águas da chuva. “Essas ruas são mal projetadas por terem sido feitas pelos próprios moradores e suas enchadas.” Explica nosso guia. Embora a situação da falta de saneamento já ter sido vista em diversas comunidades, é sempre espantoso ver o esgoto das casas sendo lançados em valas pelas ruas, onde as pessoas passam tendo um inevitável contato com os dejetos.
Chegando a sua casa Alexandre nos apresentou a seus filhos e nos acomodou em seu quarto que serve como biblioteca, academia e local de descanso. Lá pudemos ter uma rápida conversa sobre a realidade dessas comunidades.
DA JANELA DO QUARTO PUDEMOS REALMENTE TER CONTATO COM UMA BELA VISTA. O LUGAR É UM VERDADEIROSANTUÁRIO
Bate papo com Alexandre Mendes
Comunidade: Porque as pessoas vivem de forma tão precária nas comunidades?
ALEXANDRE: Quem manda é a classe empresarial. Eles detem a tecnologia para destruir tudo que é alegria para os trabalhadores e a população. Eles só pensam em si mesmo.
Comunidade: E o que os impede de dividir para melhorar o padrão de vida da população?
ALEXANDRE: São egocêntricos. Exploram a humanidade.
Comunidade: Eles nos controlam?
ALEXANDRE: Vigiam-nos a todo o momento. Não a nada que forneça alegria e pensamento as pessoas. Tudo é alienante. Esse é o sistema capitalista.
Nisso chega Davi.
Bate papo com Davi
Davi é um dos filhos de Alexandre. Com 9 anos ele já demonstra ter puxado o pensamento crítico do pai.
Comunidade: Seu pai estava falando sobre as mazelas do capitalismo. O que você pensa sobre isso?
DAVI: Eu acho o sistema capitalista ruim.
Comunidade: Por quê?
DAVI: Porque o rico sempre vem na frente e o pobre sempre fica atrás. Sempre lá embaixo. Eles descriminam o pobre e o negro.
Comunidade: E por que acontece isso?
DAVI: Porque o rico não quer que o pobre seja rico. Quer que ele fique sempre a margem da sociedade. Não dão chance para as pessoas aprenderem.
Alexandre solta uma sonora gargalhada. “Estou criando um monstro. O terror para os direitistas