quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Edith e os Girassóis

TEXTO E FOTOS: FABIO DA SILVA BARBOSA

LUIZ HENRIQUE CALDAS PEIXOTO

DONA EDITH E AS CRIANÇAS NO SEU TRABALHO ATUAL

Edith Thompson Homem de Mello sem duvida é uma daquelas pessoas que tem coisas para contar. Foi a primeira presidente da Federação das Associações de moradores de Niterói – Bairros e Favelas e virou o principal personagem do livro chamado “O Silencio de Girassóis” de Bruno Cattoni, lançado esse ano.
Nascida no Espírito Santo ficou viúva há 32 anos. Já com os filhos crescidos veio para Niterói, morar no Viçoso Jardim. Não sabendo da existência do aterro sanitário que havia no lugar naquela época, se mudou para uma bela casa da localidade. Depois ao fazer a descoberta ficou descontente, até ter a visão que iria mudar sua vida. Crianças disputando um pedaço de carne com urubus. Todas as viagens que tinha feito na época em que trabalhou com turismo, nunca lhe proporcionaram isso.
Ela se juntou aos moradores do Viçoso que eram favoráveis a retirada do lixão, começando um trabalho de conscientização da comunidade. Se identificou com a luta. “Fazíamos panfletagens e reuniões o tempo todo e ninguém se cansava. O que nos dava força era ver aquilo. Aquelas mulheres magras garimpando comida.” A campanha ganhou força e marcaram hora para a entrada do ultimo caminhão de lixo no lugar.
A questão ecológica já começava a ganhar força e se falou em uma usina de tratamento ultra moderna que seria instalada em São Gonçalo. Mas quando ela percebeu, haviam comprado um terreno no Morro do Céu e trazido o lixão para lá. Houve verdadeiras batalhas impedindo a simples transferência do problema de endereço. Por fim foram vencidos. Alguns moradores permitiram a entrada do lixo em troca de melhorias no lugar.
Algum tempo depois do Lixão acomodado em sua nova “casa” Edith foi convidada pelo engenheiro, ex-vice-prefeito de Niterói, fundador e ex-presidente da CLIN, ex-secretário municipal e ex-vereador Luiz Eduardo Travassos do Carmo a ser mãe crecheira no Morro do Céu, pois havia muitas crianças em situação precária no lugar e ela propôs

A HORTA QUE DONA

EDITH USA DE FORMA

TERAPEUTICA COM AS CRIANÇAS

a construção de uma creche. Após muitas visitas ao aterro Travassos montou a creche. Arranjaram uma casa com um preço simbólico e iniciaram a reforma.
O passo seguinte foi convencer aos pais a deixarem seus filhos freqüentar a creche. Muitos agiram com desconfiança. A primeira mãe que aderiu ao projeto tinha 14 anos. O neném, com menos de 1 ano não tinha pestanas, pois as moscas já tinham comido. O cantinho da boca também estava roído, pois elas comiam os resíduos de leite que juntavam ali. O primeiro berçário foi feito inspirado nessa criança.
Depois começaram a chegar às outras crianças. Alguns bebês se apresentavam vestindo uma perna de calça jeans como fralda. Logo eram 70 crianças. A casa ficou pequena e tiveram de se mudar para uma segunda creche. Nesta o berçário ficou enorme e começaram a trabalhar também como lar alternativo, onde as crianças passavam todo o dia e tinham todos os cuidados que os pais não podiam dar. Era o único trabalho social desenvolvido para os catadores na época. O projeto já se chamava “Lar Alternativo e Creche Girassóis”. Como era posse e não se pagava nada, foram despejados e a casa demolida.
Nisso chegou uma verba de Brasília de R$ 200.000,00 e se iniciou o programa “Criança na Creche” do ex-prefeito João Sampaio. Fizeram parceria com a Secretaria de Educação que mantinha 35 funcionários e dava merenda. Eram atendidas 217 crianças no novo prédio. Edith muito satisfeita com a situação teve a surpresa da municipalização em janeiro de 2007. Mesmo sendo peça fundamental na construção de tudo aquilo, sabia que seria bom para as crianças e aceitou o pedido para se retirar sem criar maiores problemas, deixando sua creche para o município que mudou seu nome para Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI).
Pensou em criar uma casa para idosos, mas acabou por continuar o trabalho com crianças. Hoje seu projeto de vida se dividiu, atendendo pelos nomes de “Associação Filantrópica Bem Me Quer” e “Lar Alternativo Os Girassóis”, que funcionam na mesma casa. Um serviço de telemarket ajuda a receberem doações, com as quais mantém o trabalho, pagam o aluguel e funcionários. Não recebem nenhum tipo de verba do estado.

NA HORA DO ALMOÇO AS CRIANÇAS COMEM OS LEGUMES E VERDURAS QUE AJUDARAM A CULTIVAR

Nenhum comentário: