segunda-feira, 23 de junho de 2008

OS HERÓIS DA CHIBATA E OS HERÓIS DA SOBREVIVÊNCIA

TEXTO POR: ALEXANDRE MENDES
FOTOS RETIRADAS DA INTERNET


A história está cheia de pessoas que são lembradas sem ter porquê ou merecer. Eis que temos contada, de forma indigna, a Revolta da Chibata, em 1910. Liderada pelo marujo João Cândido Felisberto, mais conhecido como "Almirante Negro", e seus companheiros, os marujos Francisco Dias Martins e os cabos Gregório e Avelino; a marinha rasa se sublevou contra o castigo do açoite. A "última vítima", o marujo Marcelino Menezes, levou 250 chibatadas no convés, e apanhou até depois de desmaiado.
Este fato, marca o início da revolta em 22 de novembro de 1910. Com os navios Minas Gerais, Sao Paulo e Deodoro, João Cândido e os marujos apontaram os canhões para a capital, reivindincando melhores salários, alimentação e, a extinção da chibata. Com astúcia, o governo aceita as reivindicações,mas em seguida ( menos de um mês depois ), persegue-os, simulando uma rebelião na Ilha das Cobras, onde estava a maioria dos sublevados.
Poucos sobrevivem ao bombardeio. João Cândido não estava na Ilha das Cobras, mas foi mandado para lá. Outros marinheiros não tiveram tanta sorte e foram transladados para o interior da Amazônia, ou fuzilados e jogados ao mar durante o percurso. João Cândido sobrevive e fica louco. É internado em um hospital psiquiátrico e, quando lhe dão alta, sua patente é caçada, e todas as portas fecham na sua cara. João Cândido termina sua injusta vida como empregado no comércio pesqueiro, aos 89 anos. Ele nunca abandonou o mar. O Almirante Negro foi, como Zumbi, um dos nossos verdadeiros heróis. Devemos nos espelhar neste exemplo de cidadão brasileiro que luta pelos seus interesses.
Os marinheiros eram perseguidos, e a Marinha do Brasil demonstrava-se posturalmente escravocrata. Hoje em dia, os marinheiros tem o seu prestígio e, em 2003, todas as honras, salários e gratificações dos marujos da revolta foram calculados e repassados às suas famílias. No entanto, podemos afirmar que o problema não acabou...
Outras profissões são perseguidas e discriminadas, como podemos ver no cotidiano das grandes cidades. Um exemplo disso são milhares de vendedores ambulantes, pessoas desempregadas, que passam o dia gritando o nome de suas mercadorias e correndo da fiscalização. Se forem pegas, sua mercadoria (às vezes todo o dinheiro da pessoa é aplicado alí) é confiscada sem um termo de apreensão. Se a pessoa tentar retirar a mercadoria do depósito, ela se dirige até lá e, se ainda tiver algo dela ( porque na calada da noite, as coisas somem misteriosamente no depósito), ela pega o termo de apreensão do que restou, e espera uma audiência para avaliar o valor da multa (que normalmente é igual, ou maior do que o valor da mercadoria).
NÃO EXISTE VOZ NA IMPRENSA QUE FALE A FAVOR DOS AMBULANTES. Eles são marginalizados.

Se buscarmos as origens do comércio ambulante,chegaremos aos negros recém-libertos e os ainda escravos, vendedores de fumo e especiarias, retratados nas pinturas de Debret e Rugendas. Então, reconhece-se a perseguição ao vendedor ambulante, como um marginal. Um homem que vende mercadorias falsificadas, sem notas fiscais, que fere os cofres públicos e privados (os empresários, que são vistos como vítimas). Se o ambulante tem sua origem no escravo, a perseguição ao ambulante, como a dos marinheiros da chibata, não pode ser vista como uma simples contenção de prejuízos. O AMBULANTE SEMPRE EXISTIU EM NOSSA SOCIEDADE. Não deveria ser tratado como um bandido. Reivindico nesta matéria, um pouco de justiça, primeiramente para nossa cultura, dando o título de herói `a JoãoCândido e seus companheiros, com direito a feriado nacional e monumentos. Em segundo lugar, para a valorização e reconhecimento dos ambulantes, com a concessão de alvarás, e admitir que os tais façam parte do cotidiano histórico do panorama visual, e econômico das grandes cidades brasileiras.

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