terça-feira, 18 de dezembro de 2007

COMUNIDADE

Por: Fabio da Silva Barbosa
Luiz Henrique Peixoto Caldas

Lixão divide Morro do Céu

Moradores do Morro do Céu, no bairro do Caramujo em Niterói, estão em constante conflito devido ao aterro sanitário existente no lugar. Uma parte, representada pelos moradores da Rua A, são contra. Seus argumentos se apoiam nos problemas de saúde provocados pelo aterro, proliferação de insetos, ratos e a ameaça de que com o aumento do Lixão a citada rua desapareça como aconteceu com a Rua Santa Edvige. Os favoráveis são representados pelos catadores. Eles garimpam dia e noite sua sobrevivência sobre as enormes pilhas de lixo que não param de crescer. Não tendo outra oportunidade de trabalho, o lixão se torna uma segurança financeira, já que conseguem uma média de trezentos reais semanais com a coleta feita no lixo.
Pessoas e máquinas trabalham sobre a enorme montanha de lixo

O catador Cláudio Abreu da Silva trabalha a 15 anos no lixão e alega existir certo preconceito por parte dos empregadores. Tanto ele quanto Marta Rodrigues concordaram que normalmente perdem a vaga quando se descobre que são moradores do Morro do Céu. Margarida, outra moradora da comunidade que vive da coleta, já arranjou emprego fora, mas foi mandada embora em um corte de funcionários e teve de voltar.

Podemos observar ruas por onde os carros e caminhões da Clin trafegam.

O Presidente da Associação de Moradores do Morro do Céu Dejair Gomes de Souza ficou dividido assim que assumiu o cargo em Março de 2005, mas logo chegou o momento de tomar partido da situação. “Fiquei muito tempo na neutralidade, pois os dois lados tinham argumentos válidos. Mas tive de reconhecer que muitos precisam do aterro para viver. Estamos falando de desemprego em massa. De tirar o sustento de varias famílias”.
O Presidente da associação de moradores Dejair Gomes de Souza

Desde 1983 o lixo de Niterói é enviado para lá, onde é espalhado, compactado e coberto por uma camada de saibro. A poeira que emana do lugar entra nas casas próximas provocando doenças respiratórias nos moradores. A catadora Maria Lucia sofre de bronquite, que se agrava a cada dia devido ao contato com a poeira. Cerca de 470 toneladas de detritos são lançadas no aterro por dia. Ambientalistas propõem a criação de um Ecopolo de reciclagem e energia que produzirá energia limpa (biogás) e adubo orgânico além de construir Ecofábricas com matérias primas oriundas do lixo, incentivando a implantação da coleta seletiva e de programas de reciclagem com participação direta de cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Até agora nada foi resolvido.
A usina existente trabalha com uma cooperativa que não agrada aos catadores e não consegue dar conta de todas as situações gerados pelo lixão, como o problema do chorume.

Os catadores apoiam a ideia da cooperativa. Ricardo da Silva, diz que gostaria de ter seus direitos trabalhistas assegurado por uma cooperativa que fornecesse um crachá de identificação, luvas e mascaras, além de um salário ao menos compatível com o que ganham coletando individualmente.

Os catadores


Os trabalhadores vêem seu serviço como um trabalho além de honesto, ecologicamente correto. Edna Gomes da Silva explicou que pilhas e baterias que não podem ser aterradas são encaminhadas por eles para a reciclagem. Outro fator importante nos foi exposto por Sérgio Luiz Bull, o reaproveitamento. ”Tem cada coisa que cai aqui dentro... Só vendo. Quase tudo agente aproveita. É boné, camisa, sapato... Outro dia veio um caminhão de batata carregado”.
Jurema de Jesus assegurou que além dos desempregados, muitos aposentados têm de encarar a vida de catador para complementar a renda. Ela mesma com osteosporose e problemas neurológicos tem de trabalhar duro no Lixão para se sustentar. Ainda conseguindo ajudar a filha e o neto que moram em Itaboraí. “Enquanto tem muita gente dormindo nós estamos aqui trabalhando. É melhor do que roubar ou se prostituir. Fui morar um tempo em Itaboraí tentando arrumar emprego e até fome passei”.

Os caminhões despejam lixo 24 Hs por dia no lugar


Outros problemas

Além dos problemas apresentados pelo Lixão e o conflito entre moradores que tentam definir seu destino, outras mazelas afligem o Morro do céu. Embora a prefeitura mande alimentos, a verba que auxiliava a associação de moradores foi suspensa. Uma parte da comunidade está sem água por falta de bomba e em alguns pontos a pavimentação deixa a desejar.
O controle de zoonozes fica na Rua Gustavo Moreira, dentro da comunidade, mesmo assim o número de cães soltos pelas ruas é espantoso, muitos bravos ou doentes.
A comunidade só tem condução até 23:00 Hs. Depois desse horário o ônibus 26 – Morro do Céu para e o único jeito de sair ou entrar no lugar é pedindo carona aos caminhões de lixo, que circulam 24:00 Hs pela redondeza despejando lixo no aterro. Até ao hospital vários moradores já tiveram de ir através de carona nos caminhões.

Uma comunidade está sendo erguida sobre o lixão. Observe as moradias.

Faltam ainda área de lazer e aulas de informática. Chegaram vários computadores no projeto Chico Mendes, mas não se sabe por que ou por quem foram todos recolhidos.
O Gari Comunitário conta hoje com apenas um trabalhador para manter toda região limpa.
O tesoureiro Marielson, nos apresentou a Rua Íris de Meneses. Uma rua residencial que contorna o lixão e que está entre os lugares mais carentes. Disse-nos que a rua está precisando de uma atenção especial, pois muitos pedidos já foram feitos direcionados a ela e até agora não houve resposta.
ENDEREÇO DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO MORRO DO CÉU:
Almezina Barbosa – 256
Morro do Céu
Caramujo













Tesoureiro Marielson com os catadores

2 comentários:

Anônimo disse...

Infelizmente o povo, os catadores de lixo e a comunidade estão sendo violentamente prejudicados em todos os sentidos. Falta Programa de Sáude e principalmente decência e respeito para com pessoas que são seres humanos. A grave condição social dos catadores que infelizmente por possuirem baixo conhecimento dos riscos de saúde a curto e meio prazo e as doenças crônicas que estão expostos em troca de um dinheiro que no futuro não atenderá as suas necessidades básicas.

Anônimo disse...

Este Aterro Sanitário funciona sem as mínimas condiçoes, sendo um total desrespeito pelo Ser Humano e pela população local que além de humildes e honestas, estão tendo suas casas desapropriadas e principalmente, sendo aterrorizdas psicologicamente para aceitar valores de indenização mínimas que somente aumentaram a grave crise social. É desumano a atitude da Prefeitura de Niteroi. É caótica e cega a atitude de politicos e de pessoas ligadas ao Meio Ambiente que não se pronunciam e nem procuram avaliar os impactos ambientais e principalmente, se este Aterro do Morro do Céu foi legamente instalado.